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O endodontista e o “canalista” – por Celso Luiz Caldeira

celso luiz caldeira

Celso Luiz Caldeira

Professor de Endodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP)

A tecnologia trouxe uma série de benefícios à vida moderna, facilitando diversas situações práticas, inclusive na área da saúde. Na Odontologia, diversos recursos têm sido utilizados com o objetivo de otimizar a sua prática, propiciando, quando bem aplicados, um trabalho com maior precisão, qualidade e rapidez.

Porém, uma série de consequências do uso dessa tecnologia deve ser considerada. Os profissionais cada vez mais são seduzidos pelos novos aparelhos e sua apresentação visual (luzes, gráficos e números), gerando uma falsa ideia de que quanto maior a quantidade de recursos visuais, maior a sua precisão. Outros estão apenas em busca de protocolos técnicos, não importando definir o diagnóstico ou estabelecer um prognóstico adequado.

Na Endodontia, nas últimas décadas, também ocorreu um grande avanço tecnológico na área técnica, com o surgimento incessante de novos instrumentos, motores, localizadores, entre outros recursos que são exaustivamente apresentados nos eventos e cursos da área — o que, certamente, permitiu uma melhor capacitação tanto dos alunos de graduação quanto de todos os cirurgiões-dentistas que exercem a especialidade.

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A parte técnica da especialidade estaria, portanto, bem consolidada; e todos, se adequadamente treinados, poderiam realizar um bom “tratamento de canal” e se tornar bons “canalistas”.

Porém, ser endodontista e fazer um bom tratamento endodôntico é outra coisa: é preciso saber mais “por que fazer” do que “como fazer”. É arranjar, de maneira lógica, as informações obtidas do paciente e, só assim, definir o diagnóstico e dar rumo à terapia, julgando qual técnica e instrumental aplicar para cada situação em particular.

Os recursos tecnológicos devem ser utilizados cada vez mais, inclusive no diagnóstico, mas jamais devem substituir a capacitação científica e a experiência do profissional. Cabe a reflexão do rumo a ser tomado, por toda a classe endodôntica, sobre quem estamos formando: “canalistas” ou endodontistas?

*Publicado originalmente na Dental Press Endodontics

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