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Empodere-se: na Ortodontia, na vida! – por Silvia Reis

Siilvia Reis (Foto: Márcia Charnizon)

Silvia Augusta Braga Reis
Doutora em Ortodontia pela USP, Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia, FAIPE (Belo Horizonte/MG, Brasil); Coordenadora do Curso Ortoadultos (Belo Horizonte/MG e São Paulo/SP); e Clínica particular (Belo Horizonte/MG).

“É importante frisar que, quando empodera uma mulher, você munda o mundo. Espero que, em 20 anos, tenhamos menos batalhas e que toda mulher possa ser aquilo que deseja”. Diane Von Furstenberg, estilista.

Por que devemos discutir a relação entre as mulheres e a Ortodontia? Uma importante razão é porque as mulheres são a grande maioria dos profissionais que exercem a Ortodontia do século XXI. Ao examinar  programa de qualquer congresso de Ortodontia, nacional ou internacional, ao passar os olhos pelos autores ou revisores de artigos nas principais revistas da área, tem-se a impressão de que a Ortodontia é exercida e impulsionada por uma imensa maioria masculina. Ledo engano!

Enquanto os homens ainda são dominantes nos púlpitos e nas lideranças dos grupos de pesquisa, uma legião anônima de mulheres é responsável pelo principal objetivo da nossa especialidade: promover a saúde1 e a estética da população. Crianças, jovens, adultos ou idosos são beneficiados, estética e funcionalmente, pelas mãos habilidosas de uma massa feminina que hoje é a maioria nos cursos de graduação de Odontologia, nos cursos de pós-graduação em Ortodontia e nos consultórios, onde o exercício da profissão encontra seu júbilo. Além de lotar as carteiras das faculdades, em qualquer nível de formação, elas mostram ao que vêm nas plateias dos congressos ou de qualquer curso de extensão, excelência ou educação continuada que as mantenha atualizadas e capacitadas para oferecer o melhor tratamento aos seus pacientes.

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Desde a década de 60, as mulheres vêm ganhando espaço no cenário profissional, às custas de uma luta constante contra o preconceito e o machismo, presente até os dias dehoje no dia a dia das profissionais. Em uma entrevista concedida em 2006, a Dra. Carla Evans, à época chefe do Departamento de Ortodontia da Universidade de Illinois, revelou que era a única mulher na sua classe de Odontologia, em 1965, na Universidade de Michigan, e que, segundo ela, “passaram-se muitos anos para que um número significativo de mulheres ocupasse um lugar em cada classe das escolas de Odontologia”. Esse espaço era visto mais como um privilégio do que uma conquista. Ainda hoje, a voz masculina parece ter mais credibilidade do que a feminina, mesmo no olhar das mulheres, impregnadas pela cultura e educação machistas.

A história e a cultura marcam as nossas vidas e as nossas oportunidades. A virada numérica nas escolas de Odontologia ocorreu em um passado muito recente e esse processo ainda está em curso, inclusive no olhar das próprias mulheres, as quais devem se sentir capazes de assumir as posições de liderança em pé de igualdade com nossos colegas de profissão.

Profissionais, esposas, mães, aprendemos a dividir o tempo entre o desejo e a necessidade de trabalhar e estudar e o desejo e a necessidade da maternidade. Normalmente, adiamos esse sonho, acreditando que ao nos estabelecermos profissionalmente teremos mais tempo para as crianças3. Outro engano! Aquelas que se apaixonam pela Ortodontia e sentem a necessidade de exercê-la com esmero, aprendem a dividir o tempo entre o consultório, os cursos e os filhos.

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Difícil é se livrar da culpa de perder o evento da escola do filho por causa DAQUELE curso, ou perder AQUELE curso, que você esperou por anos, para estar na festa do dia das mães. Aprendemos a ceder para um lado e para o outro, dirimindo a culpa e exercendo na plenitude que nos é possível a profissão e a maternidade, dividindo cada vez mais as tarefas com pais, maridos, companheiros. Eles, por sua vez, historicamente beneficiados profissionalmente pela dedicação feminina aos filhos, devem dar a sua justa contribuição para a sustentação da vida profissional de suas mulheres que desejam alçar voos mais altos.

Que todos saibam: o empoderamento feminino vem da habilidade de fazer coexistir dentro de nós o desejo e a prática de exercermos a melhor Ortodontia e vivermos plenamente a vida afetiva, maternal, social! Cada uma faça do seu tempo o que desejar: trabalhar meio horário, o dia todo, apenas no consultório ou dando e fazendo muitos cursos e viagens, desde que essa realidade seja fruto de uma decisão pessoal, e não de imposições sociais ou por uma sensação de incapacidade ou limitação. Que cada uma de nós faça sua escolha, sempre pela felicidade. Citando Adélia Prado:

“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento”. Enquanto nos anos 50 do século passado não se falava em mulheres ortodontistas, hoje somos a maioria de uma profissão que nos orgulha mundo afora e temos cada vez mais representantes entre os palestrantes, os autores e revisores, trazendo um olhar cada vez mais feminino para aquela que já nasceu feminina: A Ortodontia.

*Publicado originalmente na coluna Eu Penso Assim, da Revista Clínica de Ortodontia (v17n1).

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