Dr. Marcos Túlio atua como Ortodontista há 20 anos. Desde quando se formou, atendia por consultório própria e, apesar das adversidades inerentes a um recém-formado, foi se consolidando como um profissional da área. Desde o início, ele investiu bastante no seu estabelecimento. O financiamento de equipamentos pelo Banco do Brasil se acumulou junto ao seu empréstimo estudantil, o que fez com que se esforçasse ainda mais para arcar com seus compromissos e prosperar profissionalmente.
Foi em Itabirito (MG), a 50 km de Belo Horizonte, que ele resolveu traçar sua carreira. Apesar de não conhecer ninguém na cidade – que tem aproximadamente 50 mil habitantes – investiu na profissão e no crescimento pessoal. Com o bom trabalho, aos poucos foi ganhando espaço. Nos últimos meses, entretanto, as intérperies do tempo se confundiram com as interpéries da vida para Marcos Túlio. Os temporais na Bahia e Minas Gerais , que invadiram o noticiário, dadas as proporções dos estragos, invadiram também o consultório de Túlio.
“Durante esse logo tempo, por duas ocasiões, apenas, a água tinha vindo até o passeio com as chuvas, mas, dessa vez, entrou com força total atingindo um metro e meio aproximadamente. Infelizmente, no final de semana do ocorrido eu não estava na cidade e não pude fazer nada, não pude subir nada, mas também nem adiantaria porque foi chuva demais. A cidade ficou por três dias sem estradas. Ninguém saia ou chegava, situação de pânico mesmo, toda a região central foi afetada e praticamente 80% do comércio também”, relembrou o cirurgião-dentista.
Segundo ele, somente no ciclo de amizade de dentistas na cidade, foram 12 pessoas que perderam tudo ou quase tudo. Cada qual com suas lembranças e investimentos, literalmente, na lama. Equipamentos, livros, certificados e o consultório tomados pela água, sem a possibilidade de fazer nada.
“A dor maior minha foi no emocional. Foram nas lembranças de cada pedacinho de cada coisa, cada objeto de decoração e principalmente dos meus 106 livros da área que eu atuo jogados todos no barro e na lama, sem mais nada a fazer. Poxa doeu. Como foi ruim. Nada sobrou. Alguns equipamentos até tem recuperação e estamos fazendo de tudo para voltarmos em meados de fevereiro”, destacou Túlio.
Solidariedade
Nos momentos difícies, diz Túlio, percebe-se a paixão humana ao lado de quem sofre. Segundo ele, diversos profissionais que não foram afetados pelas fortes chuvas se engajaram para auxiliá-lo a voltar. Muito mais do que apoio financeiro, foi apoio físico, na retirada do barro e lama do consultório. Cenas que marcaram para sempre. Os pequenos aparatos que ajudam a acessar a boca, deram lugar à pá e à enxada.
“Colegas de profissão que não foram afetados, mudaram toda sua rotina para com pá e enxada remover o barro dos consultórios e das ruas. Cenas que jamais me esquecerei. Foi uma união de todos por aqui. Cada um contribuía com o que podia. Era o que mais precisávamos: realmente a força braçal. Por uma semana, o choro era unaminidade. Foram momentos de muita desilusão com tudo. Não tínhamos força, nem esperança. Mas o tempo não iria parar somente por nossa causa. Fomos e ainda estamos na luta para nos reconstruirmos”, ponderou.
Dr. Marcos Túlio tinha uma série de livros da editora Dental Press, os quais foram todas comprometidos pela chuva. A editora, então encaminhou novos exemplares de cada uma das obras que estava no acervo original do dentista, além de quatro lançamentos da casa. “Receber o presente da editora foi como se a energia subisse ao céu. Da um revigorada no espírito, faz acreditar que tudo dará certo novamente”, disse.
