Qual é o tratamento adequado para dores constantes e inexplicáveis na face, mandíbula ou cabeça que desafiam o tratamento dentário convencional? Segundo pesquisadores da Rutgers School of Dental Medicine, a resposta varia muito de paciente para paciente. Para uma paciente em um estudo de caso recente, foi a remoção de um tumor benigno em seu tronco encefálico.
Esses relatos são parte de um corpo crescente de pesquisas da Rutgers School of Dental Medicine, que procura documentar estratégias eficazes para diagnosticar e tratar uma queixa surpreendentemente comum: dor orofacial persistente decorrente de causas desconhecidas.
“Nossa pesquisa indica que aproximadamente 10% da população tem dores recorrentes nos dentes, boca ou face que provêm de algo que não seja cáries ou problemas gengivais, e a maioria dos dentistas tem pouco treinamento para diagnosticar os problemas que as causam”, disse Gary Heir, autor principal do estudo, que também é o diretor do Centro para Distúrbios Temporomandibulares e Dor Orofacial da Rutgers School of Dental Medicine.
A paciente do estudo de caso sofreu por anos com uma dor quase constante nos dentes inferiores do lado direito, maxilar e face. Ela chegou a visitar diversos dentistas, e todos ficavam perplexos, já que seus dentes e gengivas pareciam ser perfeitamente saudáveis.
Uma avaliação mais detalhada do Centro para Distúrbios Temporomandibulares e Dor Orofacial diagnosticou um tumor benigno em seu tronco encefálico, que afetava a inervação primária da face a da mandíbula. A cirurgia de retirada do tumor resultou na remissão completa da dor de longa data.
“Os desafios de diagnóstico de casos como esse requerem uma maior atenção aos detalhes”, afirmou o pesquisador. “No Centro, nós atendemos diversos pacientes nesta situação que necessitam de investigações mais aprofundadas, oferecidas pelos profissionais em dor orofacial que estamos treinando em nosso programa”.
Segundo Heir, a questão está bem mais relacionada a avaliação longa e detalhada dos profissionais, do que nas eventuais formas de tratamento. Dores orofaciais severas, que a primeira vista podem parecer causadas por problemas nos dentes e gengiva, podem ter diversas fontes que vão desde um leve desalinhamento mandibular, até doenças sistêmicas, como foi o caso da paciente do estudo. As formas de tratamento são igualmente variadas.
Especialistas da Rutgers estão trabalhando na categorização das causas e tratamentos mais comuns para as dores orofaciais inexplicadas, que ainda devem se tornar parte do currículo nos estudos de Odontologia. Mesmo quando a informação for disseminada, o tempo necessário para o diagnóstico será um desafio aos profissionais que atendem dezenas de pacientes diariamente.
“É definitivamente uma situação mais natural para especialistas, particularmente em medicina acadêmica, porque requer um longo trabalho investigativo”, afirmou Heir. “Nossos alunos muitas vezes passam duas horas ou mais tomando o histórico de um paciente, porém é no histórico que estão as respostas. Os pacientes eventualmente lhe dirão qual é o problema, você só precisa saber o que perguntar e o que ouvir”.
Se comparado ao número de pacientes com problemas de dor orofacial, o número de profissionais especializados nos Estados Unidos é ínfimo. Gary Heir diz que, no estado de Nova Jersey, há apenas 6 especialistas treinados na área, e 4 deles lecionam na Rutgers School of Dental Medicine. Várias partes do país não contam com nenhum profissional da área.
Como resultado, pacientes tem bastante dificuldade em encontrar profissionais que tratem de dores orofaciais. “No momento, os pacientes só chegam até nós quando já estão desesperados”, diz o pesquisador. “Queremos divulgar estas informações para que essas pessoas cheguem até nós antes. Ninguém merece passar anos com dor, assim como essa paciente”.