Cuidar da saúde das gengivas pode ser tão importante quanto manter o controle da glicemia para pessoas com diabetes. Estudos científicos vêm reforçando que existe uma relação bidirecional entre a doença periodontal — popularmente conhecida como doença gengival — e a diabetes, condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. As informações são da Harvard School of Dental Medicine.
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De acordo com as pesquisas, indivíduos com periodontite apresentam maior risco de desenvolver diabetes. Por outro lado, pessoas com diabetes têm até três vezes mais chances de desenvolver doença gengival. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 50% dos adultos globalmente sofrem algum tipo de doença gengival, contribuindo para o total de mais de 3,5 bilhões de pessoas afetadas por doenças orais todos os anos.
Para esclarecer essa relação, a Escola de Medicina Dentária de Harvard (HSDM) ouviu o periodontologista David Wu, instrutor do Departamento de Medicina Oral, Infecção e Imunidade da instituição e diretor do Programa de Educação Avançada de Pós-Graduação em Periodontologia.
Segundo o especialista, pessoas com diabetes apresentam maior risco de desenvolver problemas gengivais devido aos níveis elevados e persistentes de açúcar no sangue. “A hiperglicemia compromete a capacidade do organismo de combater infecções e favorece um estado de inflamação crônica na cavidade oral”, explica Wu.
Além disso, o aumento da glicose na saliva cria um ambiente favorável à proliferação de bactérias nocivas. Esse cenário facilita o acúmulo de placa bacteriana, eleva o risco de ruptura do tecido gengival e favorece o desenvolvimento de infecções periodontais.
Sinais de alerta
Entre os primeiros sinais de doença gengival, o especialista destaca gengivas vermelhas, inchadas ou que sangram com facilidade durante a escovação ou o uso do fio dental. Mau hálito persistente, sensibilidade gengival, retração da gengiva e dentes amolecidos também podem indicar o início do problema.
“Esses sintomas iniciais costumam ser indolores, o que faz com que muitas pessoas os ignorem. No entanto, eles exigem avaliação precoce por um profissional de saúde bucal”, alerta Wu.
Tratamento pode ajudar no controle da glicemia
A boa notícia é que o tratamento da doença gengival pode contribuir para melhorar o controle da diabetes. Segundo o especialista, ao reduzir a inflamação crônica causada pela periodontite, o organismo passa a responder melhor à insulina, favorecendo o equilíbrio metabólico.
“A principal mensagem é que integrar os cuidados odontológicos ao tratamento da diabetes é essencial para alcançar melhores resultados de saúde”, afirma. Prevenção, diagnóstico precoce e intervenção adequada são apontados como fatores decisivos para bons desfechos clínicos.
Prevenção e acompanhamento regular
Para pessoas com diabetes, a recomendação é adotar uma rotina rigorosa de higiene bucal, com escovação ao menos duas vezes ao dia, uso diário de fio dental e visitas regulares ao dentista. Manter o controle glicêmico, seguir uma alimentação equilibrada e evitar o uso de produtos derivados do tabaco também são medidas fundamentais para a saúde das gengivas.
Wu destaca ainda a importância do acompanhamento com um periodontologista. “Em muitos casos, recomendamos consultas de manutenção a cada três meses para monitorar a condição gengival e impedir a progressão da doença”, explica.
Novas descobertas reforçam a ligação
Avanços recentes da pesquisa científica vêm consolidando a compreensão dessa relação de mão dupla entre diabetes e doença periodontal. Estudos mostram que a inflamação causada por infecções gengivais pode piorar o controle glicêmico, enquanto a diabetes mal controlada tende a agravar infecções orais.
Além disso, novas linhas de investigação analisam o papel da genética e do microbioma oral nessa interação complexa, abrindo caminho para uma abordagem mais integrada entre a medicina e a odontologia. Para os especialistas, esse cuidado colaborativo representa um passo importante rumo a tratamentos mais eficazes e personalizados.
