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Dentista é essencial na identificação de violência doméstica, diz estudo

No Brasil, cerca de 1,6 milhão de brasileiras sofreram algum tipo de violência física em 2018| Marcos Santos/ USP

Em média, três mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica por minuto, no Brasil, em 2018. Em números absolutos, aproximadamente 1,6 milhão de brasileiras foram agredidas no ano passado. Segundo estudos desenvolvidos pela University of Arizona College of Medicine e pela Midwestern University, os cirurgiões-dentistas têm um papel importante na identificação dessas vítimas de violência.

A pesquisa publicada no mês de abril, no Journal of Agression, Maltreatment and Taruma, relata que até 75% dos traumas na cabeça e pescoço – associados a violência doméstica – ocorrem também com lesões orais. Os pesquisadores concluíram que os dentistas estão na primeira linha de defesa para identificação de agressões e relatar casos potenciais de violência doméstica.

“O objetivo geral do trabalho é trazer a odontologia e suas especialidades para a conversa sobre TCE (Traumatismo Cranioencefálico), especificamente em casos de violência doméstica”, disse o estudante da Midwestern University, Timothy Ellis, um dos principais autores do estudo.

A violência doméstica não é uma exclusividade brasileira. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres destacava, ainda no ano passado, que a violência doméstica é uma “pandemia mundial” e que esse tópico era motivo de vergonha para a maior parte das sociedades mundiais.

“É uma afronta moral a todas as mulheres e meninas, e a todos nós, uma marca vergonhosa em todas as nossas sociedades”.No seu âmago, a violência contra as mulheres e meninas, em todas as suas formas, é a manifestação de uma profunda falta de respeito, o fracasso dos homens em reconhecer a igualdade e a dignidade inerentes às mulheres. É um problema de direitos humanos fundamentais”, enfatizou o secretário-geral.

A diretora do corpo docente pré-clinico da Faculdade de Odontologia da Midwestern University – e coautora do estudo – disse que os dentistas devem estar sempre sensíveis a lesões na cabeça e pescoço, assim como comportamento que possam ser sinais de violência doméstica.

“Todos os dentistas devem ter formação sobre a identificação de possíveis ferimentos sofridos como resultado de violência doméstica. Como prestadores de serviços de saúde, já estamos obrigados a denunciar suspeitas de abuso. Não creio que isso possa adicionar uma carga indevida aos dentistas”, disse

Segundo o Dr. Ellis e Jonathan Lifshitz, diretor do Programa de Pesquisa de Neuro-trauma Translacional da University of Arizona College of Medicine, o estudo apontou que das 41,5 milhões de vítimas que irão sofrer algum tipo de violência, cerca de 20,75 milhões irão sofrer um TCE. Das vítimas que sofrerem esse trauma, aproximadamente 8,3 milhões terão algum tipo de sequela fisiológica ou psicológica de longo prazo, motivada pela lesão.

“Esta é uma necessidade social e temos que pedir a todos os provedores de assistência médica que participem na luta. É uma oportunidade para os médicos dentistas serem detetores precoces que podem encaminhar esses indivíduos para acompanhamento”, explicou o pesquisador.

O estudo, que ainda está em fase de análise de dados, irá iniciar uma coleta de dados com dentistas para documentar biomarcadores orais, que possam estipular um padrão do que seria lesões oriundas de violência doméstica e que possa auxiliar profissionais da área nesse tipo de ocorrência.

 

FONTES:

> Jornal Dentistry

> ScienceDaily/University of Arizona Health Sciences

> “Dentists can be the first line of defense against domestic violence”

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