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Dentista brasileiro se torna um ‘embaixador’ da saúde dos músicos

Alexandre de Alcântara com o trombonista BillNós últimos 20 anos, o brasileiro Alexandre de Alcântara se tornou referência no mundo da música tocando um instrumento de uma nota só: a broca. Esse aparelho que, aliás, já foi utilizado como instrumento musical pela criatividade de Hermeto Pascoal, pode ser um símbolo do respeito que músicos e cantores alcançaram no Brasil perante a odontologia, num patamar tão elevado que ainda se encontram apenas tímidas iniciativas em países considerados desenvolvidos na América do Norte e Europa. “O artista equilibra sua arte entre a mente e seu corpo. O médico precisa entender essa dança de criação de sentidos para diagnosticar possíveis sintomas que a atividade artística pode gerar. Poucos percebem que o artista é um trabalhador e, como tal, pode sofrer lesões exercendo sua profissão”, explica Alcântara.

No caso específico do universo dos músicos de instrumentos de sopro, muitas vezes, posturas incorretas no momento de tocar geram dores cujos sintomas podem ser confundidos por um especialista que não entenda o trabalho do artista. O assunto na área médica pode envolver inúmeros especialistas.

A música pode até surgir no cérebro, a partir de uma inspiração, mas para se materializar em som é preciso bem mais que estudo e o domínio de um instrumento: o corpo tem papel fundamental nesse processo. Além de técnicas de respiração, o uso de toda a boca é determinante no caso de músicos que se expressam por meio de instrumentos de sopro, como saxofone, trompete, trombone, flauta, tuba, entre outros. A conexão do corpo do músico com o instrumento de sopro se dá pela chamada “embocadura”, que por meio de uma conjunção de fatores envolvendo os dentes, lábios e a língua, permite a passagem exata de ar pelo instrumento para que ele possa emitir as ondas sonoras das notas musicais.

Graças à sua atuação no Brasil, o Conselho Federal de Odontologia emitiu o parecer 717 em 2012, no qual reconhece que o músico de sopro é um paciente especial e requer atenção. Este tipo de reconhecimento é comparável, apenas, com o tipo de atenção que o músico possui na Alemanha, não sendo visto algo parecido nem mesmo nos Estados Unidos. “Isso foi muito importante, pois permite uma abordagem ampla, desde a criança que quer se tornar um músico até um músico idoso. E o mais importante: decidi levar essa especialização adiante para incentivar que outros dentistas façam o mesmo. […] É preciso criar uma consciência nova na área, uma mudança de cultura para introduzir o músico como uma classe importante na odontologia.”
Foto: Um dos clientes do Dr. Alexandre é o trombonista Bil (foto), que fez parte da Orquestra de Clovis Elly, na década de 1950, e da Orquestra de Georges Henry, na TV Tupi, e Orquestra de Osmar Milani, na década de 1960. “Maestro nenhum abria mão de Bil. Aos 35 anos, é um músico pronto, seguro. Ex-sapateiro, nasceu em Macaparana, na Zona da Mata pernambucana, e ainda na infância começou a tocar trompa e bombardino”, escreve Fernando Lichti Barros, em seu livro recém lançado “Do Calypso ao Cha-cha-chá – Músicos em São Paulo na década de 60, editora Nova Ilusão, na página 21. E continua o autor: “Quando chegou (Bil) a São Paulo, em 1954, para se juntar à orquestra Clovis Elly no palco giratório do Clube OK, um dancing da Rua Conselheiro Nébias, ele já havia percorrido uma estrada sinuosa e movimentada entre Pernambuco e Maranhão. Estudou com Cazuzinha, pai de Severino Araújo, tocou em bandas, procissões, cabarés, estações de rádio e circo, e conheceu músicos que também migraram para o Sudeste. Em João Pessoa acompanhou um deles, o maestro Moacir Santos, até o embarque no vapor Rodrigues com destino ao Rio.”

 

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