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Clareamento dentário em paciente com restaurações estéticas

Resumo

Esse trabalho teve como objetivo apresentar um caso clínico de clareamento dentário de consultório em paciente com restaurações estéticas. Uma paciente jovem, do sexo feminino, com diversas restaurações Classe III nos dentes anterossuperiores, foi avaliada clínica e radiograficamente quanto à ausência de lesões de cárie, lesões periapicais e sensibilidade dentária.

Constatada a normalidade clínica, a paciente foi submetida a tratamento clareador com peróxido de hidrogênio (HP) a 35% (Whiteness HPMaxx, FGM) em duas sessões, com três aplicações de 15 minutos cada. Ao final do tratamento clareador, observou-se efetividade de tratamento em todos os dentes clareados, sem ocorrer mudança visualmente notável nas restaurações. Concluiu-se que a técnica de clareamento dentário de consultório pode ser realizada em pacientes com restaurações estéticas, no entanto, pode haver necessidade de troca das restaurações, pela diferença da cor resultante.

Palavras-chave: Estética dentária. Clareamento dentário. Restauração dentária permanente. Agentes clareadores.

Clareamento dentário

Significância Clínica

O clareamento dentário é um tratamento popularmente conhecido e corriqueiramente realizado nos consultórios. Embora muitos dos pacientes que procuram pelo clareamento possuam restaurações estéticas, poucos estudos avaliam ou relatam, clinicamente, os efeitos do clareamento dentário nesses dentes.

Introdução

É constatado que o sorriso, o posicionamento dentário e a coloração dos dentes são considerados atrativos pessoais; isso pode explicar o porquê de, atualmente, o clareamento dentário ser um dos tratamentos mais procurados nos consultórios odontológicos. Embora não seja um tratamento de primeira necessidade, está relacionado a uma das manifestações da personalidade humana: a vaidade1,2.

Diferentes técnicas de clareamento têm sido desenvolvidas para a obtenção de dentes mais brancos, e podem ser utilizadas para dentes manchados intrínseca ou extrinsecamente, vitais ou não vitais. O clareamento dentário é indicado em dentes que apresentam alterações de cor causadas por pigmentos superficiais e relacionados ao envelhecimento dentário, trauma ou necrose pulpar, podendo ser empregado pelo método interno ou externo3,4.

As diferentes técnicas de clareamento dentário promovem bons resultados e conservação da estrutura dentária; no entanto, possuem limitações e riscos, como qualquer terapia. Portanto, faz-se necessário que os clínicos possam discernir qual a melhor técnica para cada caso em particular5.

Sabe-se que é corriqueira a realização de restaurações na clínica odontológica; todavia, embora trabalhos relatem o tratamento clareador in vitro em dentes restaurados, há poucos relatos clínicos pertinentes a esse assunto6-9.

Considerando que pacientes que desejam realizar o clareamento dentário frequentemente apresentam restaurações estéticas, e diante do contexto exposto, o objetivo desse trabalho é relatar um caso clínico no qual foi realizado clareamento de consultório com peróxido de hidrogênio (PH) em uma paciente com restaurações estéticas.

Relato do Caso Clínico

Uma jovem com 19 anos de idade procurou atendimento odontológico com a queixa de dentes superiores escurecidos. A paciente apresentava restaurações estéticas de Classe III nos dentes 11, 21, 12 e 22, com extensão menor de ¼ da face vestibular dos dentes (Fig. 1). Foi realizado exame radiográfico (radiografia periapical e proximal) dos dentes e foi verificada ausência de cáries secundárias ou lesões periapicais. As restaurações apresentavam as margens íntegras à sondagem. A paciente relatou não apresentar sensibilidade dentinária espontânea ou decorrente da aplicação de jato de ar ou ao exame de percussão. Diante da normalidade clínica constatada, foi proposta à paciente a realização de clareamento dentário de consultório, com PH 35%.

Uma semana antes do clareamento, foi realizada profilaxia com pasta profilática (Pasta Herjos, Vigodent, Rio de Janeiro/RJ) e escova Robinson acoplada em baixa rotação. A cor dos dentes foi, então, avaliada com escala visual Vitapan Classical (VitaZähnfabrik, Bad Säckingen, Alemanha). Os incisivos centrais superiores apresentaram coloração A2 no terço médio (Fig. 2).

Os procedimentos clínicos foram realizados com afastador labial Expandex (Indusbello, Londrina/PR) para proteção dos lábios e bochechas e com o auxílio de um sugador de saliva de alta potência. Um agente dessensibilizante à base de fluoreto de sódio 2% e nitrato de potássio 5% foi aplicado previamente ao agente clareador

O agente dessensibilizante (Desensibilize KF2%, FGM, Joinville/SC) foi aplicado nas faces vestibular e incisal dos dentes que seriam clareados por 10 minutos (Fig. 3) e, então, ativado com taça de borracha acoplada em baixa rotação, durante 20 segundos em cada dente. Em seguida, os dentes foram lavados e secos.

Uma barreira fotopolimerizável (Top Dam – FGM Produtos Odontológicos, Joinville/SC) foi aplicada no contorno gengival dos dentes anterossuperiores da paciente para proteção da porção gengival, a qual foi fotopolimerizada durante 20 segundos para cada dente (Fig. 4A). Observou-se cuidadosamente com espelho bucal se não havia nenhuma região sem a presença da barreira, para evitar danos aos tecidos moles (Fig. 4B); só então foi realizada a aplicação do agente clareador.

O agente clareador (Whiteness HPMaxx, FGM, Joinville/SC) foi proporcionado de acordo com as indicações do fabricante: a fase peróxido (fase 1) do agente clareador foi misturada à fase espessante previamente agitada (fase 2), na proporção de 3 gotas de peróxido para 1 gota de espessante. A quantidade utilizada foi de 9:3 para cada aplicação. O gel clareador foi aplicado com auxílio de uma espátula plástica, recobrindo totalmente a superfície vestibular dos dentes a serem clareados, incluindo as faces interproximais, em uma camada de 0,5mm a 1,0mm de espessura. Duas sessões de três aplicações de 15 minutos cada foram realizadas com intervalo de uma semana entre elas (Fig. 5).

Ao final de cada sessão, o gel clareador foi aspirado e os dentes foram lavados abundantemente com água. Procedeu-se com o polimento dos dentes clareados com disco flexível acoplado em baixa rotação e pasta de polimento (Diamond Excel e Diamond Pro, FGM, Joinville/SC).

Resultados

O clareamento dentário apresentou eficácia em todos os dentes restaurados, sendo que não foi observada mudança de coloração das restaurações. A avaliação de cor final com a escala Vita (uma semana após o término da segunda sessão) demonstrou coloração B1 no terço médio dos dentes incisivos centrais superiores. A paciente relatou mínimo desconforto durante as sessões de clareamento, bem como nas 24 horas sequentes. Ao término do tratamento, mostrou-se satisfeita com o resultado obtido; no entanto, observou-se necessidade de posterior troca das restaurações estéticas.

Discussão

Nesse caso, a técnica de consultório foi escolhida por apresentar resultados mais rapidamente, se comparada à técnica de clareamento caseiro, podendo atingir resultados satisfatórios em uma ou duas sessões10,11; além disso, alguns pacientes recusam-se a utilizar moldeiras para clareamento caseiro4, a exemplo da jovem paciente desse estudo.

Em contrapartida, uma maior prevalência de sensibilidade associada a altas concentrações de PH é relatada12; por isso, com o propósito de proporcionar mais tranquilidade durante e após o tratamento, utilizou-se um agente dessensibilizante previamente às duas sessões de clareamento, como indicam os estudos de Tay et al.13 e Reis et al.14 O agente dessensibilizante promove diminuição da intensidade da sensibilidade, por promover oclusão de túbulos, devido à presença do fluoreto de sódio, mas principalmente pela ação do nitrato de potássio, que atua bloqueando estímulos nervosos e a transmissão da dor15.

O clareamento dentário é eficiente devido à permeabilidade dentária dos agentes clareadores7,16: o peróxido de hidrogênio na concentração de 35% apresenta um alto poder de penetração no esmalte e na dentina, pois possui baixo peso molecular e, como promove desnaturação proteica, tem a capacidade de quebrar as macromoléculas de pigmentos, das mais superficiais às mais profundas17.

Quando o dente apresenta-se restaurado, o agente clareador permeia as estruturas subjacentes às restaurações, podendo parecer que os materiais restauradores clareiam, quando, na realidade, podem apenas ter sofrido a ação de limpeza dos peróxidos17. Os resultados estéticos do caso apresentado estão de acordo com estudos anteriores que relatam que agentes clareadores não promovem alteração de cor em amálgama, resinas compostas, cimentos ionoméricos ou porcelanas18,19. Assim, como os materiais não são clareados, é recomendada a troca das restaurações após o período de eliminação do material residual18 (de 7 a 14 dias), ou após a aplicação de um agente como o ascorbato de sódio, que é uma substância antioxidante20,21.

Considerações Finais

Embora as técnicas de clareamento dentário sejam amplamente conhecidas e utilizadas, em muitos aspectos esse conhecimento ainda é obtido de maneira empírica. Por isso, são necessários mais estudos clínicos para a comprovação de resultados e embasamento científico dos cirurgiões-dentistas. Procedimentos restauradores são, com frequência, realizados em pacientes com restaurações estéticas e apresentam sucesso; no entanto, os pacientes devem ser alertados quanto à necessidade de posterior substituição das restaurações.

Como citar este artigo: Bonafé E, Kossatz S. Clareamento dentário de consultório em paciente com restaurações estéticas. Rev Dental Press Estét. 2012 out-dez;9(4):122-7.

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência

 Elize Bonafé 

E-mail: elize_bonafe@msn.com

 

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