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Cinema mancha a imagem dos dentistas

Reprodução: A Fantástica Fábrica de Chocolates

Reprodução Pixar: “Procurando Nemo”

Medo, segundo o Dicionário Aurélio, significa “estado emocional resultante da consciência de perigo ou ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários.” Esse sentimento de instabilidade emocional é constantemente relacionado aos dentistas – de acordo com a pesquisa feita por Massimo Barberi, no artigo “Medo de Dentista”, 50% da população vai ao consultório odontológico com algum tipo de ânsia ou desconforto.

Mas, afinal, por que o medo de ir ao dentista está tão presente no subconsciente das pessoas?

A doutoranda em psicologia aplicada Fátima Reis,  investigou em seu artigo “A consulta no setting odontopediátrico: A função subjetiva do medo”, publicado no periódico Análise Pisicológica, a razão do elevado número de pessoas receosas ou emocionalmente desconfortáveis em ir ao dentista. Na pesquisa, que teve crianças como objeto de estudo, Fátima relata que 36,7%  têm medo de ir ao dentista. “Esta ocorrência pode relacionar-se com o fato de diversas crianças observadas na clínica, onde a recolha da amostra  foi efetuada [referente a primeira visita ao dentista], serem re-enviadas de outros locais de prestação de cuidados, por dificuldades encontradas no setting clínico e terapêutico”, destaca.

Outra pesquisadora, Claudia Pinho, foi além dos consultórios para avaliar o pânico das crianças. No estudo “Representação social da Odontologia: a contribuição da produção cinematográfica para a perpetuação de um estereótipo negativo”, publicado na Revista de Odontologia da Unesp, Claudia apura produções em que o dentista é retratado de maneira negativa – o que, cognitivamente, influencia as mentes em desenvolvimento.

Foram analisados 17 filmes, dentre os quais dez foram pesquisados através de busca eletrônica e sete por sugestão de terceiros. São os filmes: Carlitos dentista (1914); Nova transa da pantera cor de rosa (1976); A pequena loja dos horrores (1986);  Paixão de alto risco (1994); O dentista I (1996); O dentista II (1998); Meu vizinho mafioso I (2000); Náufrago (2001); Droga de sedução (2001); Neve pra cachorro (2002); Balzac e a costureira chinesa (2002); A vida secreta dos dentistas (2002); Procurando Nemo (2003); Desaparecidas (2003); O homem do ano (2003); Meu vizinho mafiosos II (2004); e A fantástica fábrica de chocolate (2005).

De acordo com o trabalho, todos os filmes analisados trazem um perfil maquiavélico ou, pelo menos, não amistoso dos dentistas. É perceptível, também que a esmagadora maioria dos  da lista têm como público alvo o infantil. Como resultado das análises, Cláudia relacionou a personalidade dos dentistas com o medo em 80% dos filmes e, com a dor, em 73,3%. Os dados foram os mais evidentes na descrição da profissão.

Claudia enfatiza, ainda, um reforço de estereótipo negativo advindo de charges e cartoons – estes não quantificados pela pesquisa, mas, qualitativamente, têm importância na análise do medo de pacientes e retrato dos dentistas.

Mônica Viera é mãe do pequeno Murilo Vieira, de apenas 5, e relata que ir ao dentista sempre tem altos e baixos durante a consulto. “O Murilo morre de medo do aparelho [broca] de obturação, mas a dentista sempre conversa com ele, tentando tranquiliza-lo e ao fim da consulta ela sempre dá uma bexiga”, diz a mãe.

Embora o estudo não justifique 100% dos casos – já que o medo do dentista pode ser relacionado, também, à traumas pessoais – é evidente a imensa manipulação do cinema no que diz respeito à figura dos dentistas.

 

 

 

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