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Cientistas desenvolvem pasta de dente com cabelo humano

Foto: Pedro Bolle/USP Imagens

Uma inovação promissora da odontologia regenerativa pode transformar a forma como cuidamos da saúde bucal. Pesquisadores do King’s College London descobriram que a queratina, proteína presente no cabelo, na pele e na lã, é capaz de reparar o esmalte dentário e interromper as fases iniciais da cárie.

O estudo, publicado na revista Advanced Healthcare Materials, mostrou que a queratina forma um revestimento protetor quando entra em contato com os minerais da saliva. Esse revestimento imita a estrutura e a função do esmalte natural, oferecendo uma barreira contra erosões e lesões.

Os cientistas extraíram queratina da lã para os testes. Quando aplicada na superfície do dente, a proteína formou uma estrutura cristalina altamente organizada, semelhante ao esmalte. Com o tempo, essa camada atraiu íons de cálcio e fosfato, criando uma proteção ainda mais robusta contra desgastes.

“O esmalte não se regenera. Uma vez perdido, desaparece para sempre”, explicou o dentista e pesquisador Sherif Elsharkawy, um dos autores do estudo. “A queratina cria uma camada densa que sela canais nervosos expostos, aliviando a sensibilidade e protegendo a estrutura dentária de forma muito mais eficaz do que os dentifrícios convencionais com flúor.”

Segundo a equipe, o tratamento pode ser disponibilizado em duas modalidades: em pasta de dente de uso diário ou em gel aplicado profissionalmente, semelhante a um verniz, para reparações mais direcionadas. A expectativa é que a tecnologia esteja disponível ao público em dois a três anos.

Sustentabilidade
A pesquisadora Sara Gamea, primeira autora do estudo, destacou que o uso da queratina tem vantagens adicionais: “Além de ser obtida de forma sustentável a partir de resíduos biológicos, como cabelo e pele, a queratina substitui as resinas plásticas usadas hoje em restaurações, que são tóxicas e menos duráveis. É um material mais natural, que pode se aproximar da cor original do dente.”

O avanço também dialoga com preocupações crescentes sobre a sustentabilidade de materiais usados em saúde e sobre os impactos do uso prolongado de flúor.

“Estamos entrando em uma era em que a biotecnologia nos permite não apenas tratar sintomas, mas restaurar funções biológicas utilizando materiais do próprio corpo”, afirmou Elsharkawy. “Com mais desenvolvimento e parcerias na indústria, será possível alcançar sorrisos mais fortes e saudáveis com algo tão simples quanto um corte de cabelo.”

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