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Ancoragem esquelética: a revolução da Ortodontia! – por Marcio Almeida

Marcio Almeida ministra curso na SPO 2018

Marcio Almeida

Pós-doutor em Ortodontia pela USP, com passagem pela Universidade de Connecticut (EUA); autor dos livros “Ortodontia Clínica e Biomecânica” e “Mini-implantes extra-alveolares em Ortodontia (Dental Press); professor do programa de pós-graduação da UNOPAR

A ancoragem sempre foi um assunto de importância ímpar para o ortodontista, que foi acostumado a utilizar como apoio para movimentar dentes as próprias unidades dentárias e, outrora, aparelhos auxiliares intra ou extrabucais. No entanto, esses métodos são limitados, em função da dificuldade de se atingir resultados em consonância com nossos objetivos idealísticos.

Desse modo, por mais de 100 anos, os ortodontistas vêm procurando o mecanismo de ancoragem ideal, com base em critérios críticos como contrapor os efeitos indesejáveis do movimento dentário e a colaboração por parte dos pacientes. Nesse sentido, a mecânica com ancoragem convencional, infelizmente, não propicia a tão almejada “ancoragem absoluta”. Porquanto, surgiram os dispositivos temporários de ancoragem esquelética, também conhecidos como dispositivos de ancoragem temporária (DATs ou TADs).

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Aqui vai um breve histórico da ancoragem esquelética. No final dos anos 80 e começo da década de 90, havia grande expectativa em torno dos ainda incipientes DATs, que poderiam se osseointegrar com o osso alveolar. Roberts et al. apresentaram para o mundo ortodôntico os implantes posicionados na região retromolar, enquanto Wehrbein et al. demonstraram os implantes palatinos (Orthosystem). Mas foi um pesquisador do Japão chamado Kanomi que descortinou o uso de mini-implantes na Ortodontia, quando seu clássico trabalho foi publicado na Journal of Clinical Orthodontics, em 1997.

Um ano mais tarde, em 1998, Sugawara et al. desenvolveram as miniplacas para serem usadas como elementos de ancoragem durante o tratamento. Os dispositivos temporários de ancoragem esquelética tornaram-se rapidamente modalidade indispensável nas práticas ortodônticas modernas, provendo diversas aplicações clínicas. A pergunta que segue é: em qual nível estamos agora, em termos de ancoragem esquelética?

Hodiernamente, dois tipos principais de DATs estão em uso: os mini-implantes e as miniplacas — que são fixadas por mais de um mini-parafuso—, pois ambos oferecem resistência mecânica suficiente para contrapor os efeitos colaterais advindos da terceira lei de Newton. De acordo com Baumgaertel, nesse debate não existe o certo e o errado, visto que os dois métodos se apresentam bem estabelecidos e solidamente comprovados pelas evidências científicas.

Se pensarmos em termos de simplicidade de uso, facilidade de instalação, custo e tamanho reduzidos, nitidamente os mini-implantes têm sido a escolha primária dos ortodontistas, muito embora problemas e complicações possam existir com o uso deles. Quatro artigos versando sobre os mini-implantes convencionais encontram-se na presente edição temática. Um deles comenta as possibilidades biomecânicas do uso dos mini-implantes ancorados no palato para a mecânica de distalização posterior, enquanto outro relata as novas e revolucionárias possibilidades de se utilizar mini-implantes associados aos aparelhos expansores para realizar a expansão rápida da maxila sem auxílio de cirurgia em pacientes adultos (MARPE).

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Outro trabalho denota as complicações decorrentes do uso dos mini-implantes e, finalmente, o outro artigo relata a aplicação dos mini-implantes no tratamento precoce da má oclusão de Classe III. Por outro lado, Sugawara defende o uso das miniplacas na maioria dos casos ortodônticos, alegando maior estabilidade, comparada à de outros tipos de ancoragem esquelética. No entanto, um estudo recente mostrou que, não obstante a taxa de sucesso das miniplacas seja alta (98%), as complicações decorrentes do seu uso atingem 41% dos casos. Dois artigos versando sobre a biomecânica do uso das miniplacas compõem a presente edição.

À luz da evolução da ancoragem esquelética durante a última década, modificamos a maneira como estávamos acostumados a usar os mini-implantes (instalados entre as raízes) para reforçar a ancoragem durante a mecânica ortodôntica. A revolução aconteceu quando o Dr. Chris Chang mostrou ao mundo que poderíamos utilizar os mini-implantes de uma maneira absolutamente inovadora e sofisticada, instalando-os em regiões extrarradiculares. Surgiram, assim, os mini-implantes extra-alveolares inseridos nas regiões de crista infrazigomática e “buccal shelf” mandibular, permitindo, desse modo, livre movimento dentário ao longo das arcadas dentárias, já que os parafusos se encontram em áreas fora da linha de ação das raízes. Um artigo presente nessa revista referencia a biomecânica do uso dos mini-implantes extra-alveolares na correção das assimetrias em Ortodontia que tanto afrontam os ortodontistas.

Marcio Almeida autografa exemplar de livro, no 9º Congresso Dental Press (Foto: Danilo Padovan/Dental Press)

Finalizo esse editorial com um questionamento e uma assertiva: Qual mecanismo de ancoragem esquelética você prefere no seu dia a dia? Independentemente da escolha, uma coisa parece ser coerente: não importa qual dispositivo esquelético você vai utilizar, o consenso é que, a partir do surgimento da ancoragem esquelética, seja com mini-implantes, ou com miniplacas, a nossa querida especialidade jamais será a mesma, não obstante toda evolução que tivemos ao longo dos últimos anos em termos de design de aparelhos e, também, na era digital que estamos vivenciando.

Viva a ancoragem esquelética!

*publicado originalmente como editorial da edição v17n3 da Revista Clínica de Ortodontia Dental Press.

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