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Pesquisa associa amamentação prolongada a risco de cáries

Crianças amamentadas por mais de dois anos são mais propensas a ter cáries, de acordo com um novo estudo brasileiro publicado na revista Pediatrics (leia o abstract aqui). Dessa forma, ações preventivas devem ser estabelecidas o mais cedo possível, porque o aleitamento materno traz muitos benefícios para a saúde geral e oral das crianças.

(Foto: Overseastrapeze.wordpress.com)

Os pesquisadores analisaram comportamentos de amamentação e consumo de açúcar de 1.129 crianças em Pelotas (RS). Aos cinco anos, as crianças visitaram um dentista e foram examinadas para detectar deterioração em superfícies dentárias e cáries severas, restauradas ou não. As cáries severas foram definidas como seis ou mais superfícies dentárias primárias deterioradas, restauradas ou não.

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Entre as crianças participantes do estudo, 23,9% apresentaram cáries severas e 48% tinham pelo menos uma superfície dentária afetada. As crianças que foram amamentadas por dois anos ou mais (cerca de um quarto das participantes) tiveram um risco 2.4 vezes maior de ter cáries severas, em comparação com crianças que foram amamentadas por menos de um ano.

De acordo com a autora principal da pesquisa, Dra. Karen Peres, professora associada na Universidade de Adelaide, na Austrália, existem alguns fatores que explicam a associação. “Em primeiro lugar, as crianças que são amamentadas por mais de 24 meses geralmente mamam sob livre demanda e durante a noite. Em segundo lugar, com a maior frequência de aleitamento materno e amamentação noturna torna-se muito difícil limpar dentes neste período específico”, explica.

No entanto, o estudo descobriu que a amamentação entre 12 e 23 meses não apresentava um maior risco de cáries.

Aleitamento materno e saúde bucal

Márcia Vitolo, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, disse que também acredita que a amamentação em alta frequência, bem como a quantidade de açúcar consumida, podem explicar os resultados. Ela não esteve envolvida neste estudo, mas já trabalhou em pesquisas semelhantes.

“Eu acredito que há associação entre aleitamento materno e cáries quando o ambiente é insalubre – como há uma alta frequência de amamentação durante o dia e a noite, além do consumo de doces”, disse a professora.

O estudo também encontrou uma associação para características socioeconômicas que podem contribuir para um maior risco de cáries entre crianças. Em famílias de menor renda ou com mães com menor escolaridade, as crianças tinham mais cáries e apresentavam maior risco de apresentar cáries severas.

Outras pesquisas que medem a relação entre amamentação a longo prazo e cáries tiveram resultados mistos – embora isso possa ser devido, em parte, ao fato de os pesquisadores terem examinado crianças de diferentes idades e definido a amamentação prolongada em diferentes intervalos de tempo.

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Márcia, que realizou um estudo semelhante na capital gaúcha, também descobriu que as crianças amamentadas por mais de 24 meses tiveram um risco duas vezes maior de desenvolver cáries severas. Duas outras pesquisas sobre este tema, realizadas Alemanha e na Itália, encontraram uma associação, enquanto outra no Brasil não.

Mas Karen Peres diz que é importante lembrar que, como este estudo foi realizado no Brasil, os resultados podem não ser aplicáveis ​​a outras partes do mundo.

“Eu acredito que a extrapolação geral de nossas descobertas é incerta, sugerindo que isso poderia ser feito apenas para populações com padrões semelhantes de aleitamento materno e exposição ao flúor”, disse ela. O flúor na água pode prevenir a cáries. Pelotas (RS) é abastecida por água fluoretada desde 1962.

Benefícios da amamentação

Diversos outros estudos, no entanto, constatam os benefícios da amamentação para a dentição. Em outra pesquisa, Karen descobriu que bebês que mamam exclusivamente no peito por seis meses têm 72% menos chances de ter má oclusão.

(Foto: Reprodução)

A amamentação também pode reduzir o risco de uma condição chamada cárie dentária do bebê, que é mais frequentemente associada com os dentes dos bebês sendo expostos a bebidas açucaradas durante um longo período de tempo. Isso costuma ocorrer quando os bebês são colocados na cama com uma mamadeira, ou quando a mamadeira é usada como chupeta.

A Academia Americana de Pediatria recomenda amamentar bebês por um ano – e continuar por mais tempo somente quando tanto a mãe quanto a criança quiserem. As recomendações da Organização Mundial de Saúde prolongam o período de amamentação até dois anos ou mais.

Há diversos benefícios da amamentação, para a mãe e o filho. A amamentação proporciona aos bebês os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento, além de reduzir o risco de doenças infecciosas, infecções de ouvido, diarreia e até mesmo a morte. Para as mães, a amamentação pode ajudá-los a retornar ao seu peso antes da gravidez mais rapidamente, ao mesmo tempo que reduz o risco de câncer de ovário e de mama.

A Academia Americana de Pediatria diz que há muito poucos motivos para não amamentar, como certas doenças ou outras condições. Um médico deve sempre ser consultado para determinar se uma mãe pode amamentar com segurança.

Fonte: Livre tradução do cnn.com (leia o original aqui).

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