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Bebe-se 9 litros de álcool por ano! – por Alberto Consolaro

Alberto Consolaro

Livre docente e Professor Titular de Patologia na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP)

Pela primeira vez na história, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica ou ASCO (American Society of Clinical Oncology) declarou, em alto e bom som, que o consumo de bebidas alcoólicas é um fator de risco para vários tipos de câncer e que isto deveria ser modificado.

O Brasil está entre as nações que mais consomem álcool “per capita” ou por pessoa. Se dividirmos o consumo de álcool pelo número de brasileiros, cada um ao ano ingere NOVE LITROS de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Assustador e impactante pela quantidade e pelo mal que faz.

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A revista científica mais importante do mundo em todas as áreas do conhecimento e que apresenta o maior índice de impacto na opinião pública mundial chama-se “Journal of Clinical Oncology”. O que se publica nela, se transforma em protocolo de conduta no mundo todo de forma imediata e inquestionável, tal o seu grau de credibilidade.

Neste mês saiu no “Journal of Clinical Oncology” um alerta com todas as evidências possíveis de estudos científicos de que o álcool é relacionado diretamente com vários tipos de cânceres. Em cada 20 casos de câncer, pelo menos um foi provocado pelo consumo de álcool: é muita coisa! Os cânceres diretamente associados são os de boca, orofaringe, laringe, esófago, fígado, mama e intestino, assim como para o câncer gástrico e de pâncreas. E tem mais: se beber pouquinho ou muito, do mesmo modo provoca o câncer e a medida que aumenta-se o consumo, aumenta igualmente o risco!

E se não houvessem mais cenas artísticas em que os personagens não mais bebessem? E se as propagandas de bebidas alcóolicas fossem proibidas? E se todos tipo de produtos, incluindo medicamentos, cosméticos e de higiene pessoal fossem impedidos de ser fabricados usando-o álcool como veículo? E se nas calçadas e ambientes públicos fosse proibido o consumo do álcool evitando exemplo às crianças e jovens!?

Ainda tem os males ao dirigir veículos, equipamentos pesados e a associação do álcool com os mais variados tipos de violência, desorganização familiar e perda de produtividade no trabalho. Fico a pensar: quantas “decisões” são tomadas no jogo do poder nos governos e empresas! Vejam as fotos e vídeos das reuniões dos lideres nacionais e internacionais. Fico reparando nas entrevistas, declarações e programas, como falam e se apresentam muitos políticos, empresários, bandidos e outros facínoras: nitidamente beberam!

Eu não sei onde está localizada a consciência: se no cérebro, coração ou na alma! Seria a consciência uma coisa presencial ou virtual? Como acessamos: via google ou pelo instagram? Estaria no corpo ou nas nuvens no “icloud” celestial? Algumas pessoas, com a maior cara de pau, afirmam que bebem socialmente.

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Enfim, coloquemos a mão na consciência: será que existe mesmo o consumo social de álcool? Não existe critério para se estabelecer o que é consumo social. É científico que consumir álcool faz mal pra tudo, incluindo as atividades sexuais. Depois da festa quem bebe vai dormir e não fazer sexo. Então já sabes, sair andando pela festa com o copo na mão é igual anunciar: esta noite não vai ter sexo!

Claro que é muito difícil mudar hábitos e vícios, mas temos exemplos positivos. Antigamente fumar era chic e hoje é uma das coisas mais bregas, pois cheira mal, dá halitose, o gosto da boca fica insuportável e faz mal para quase tudo. Beber não é elegante, a pessoa fica agressiva, grosseira e fala ou age sem controle! Reconheçamos que beber é auto-agressividade, insegurança e falta de cuidado consigo mesmo!

Conscientizar a sociedade sobre os efeitos do álcool passa pela acessibilidade dos adolescentes. Aqui se compra bebidas alcoólicas em postos de combustíveis, padarias, mercearias e já vi até em farmácia. Deveria ter restrições e aumentar mais ainda os impostos, com maciça campanha de conscientização social. Tal como foi e é feito com o tabaco.

Álcool está diretamente relacionado como causa do câncer e isto não é opinião pessoal: é comprovado pelos métodos mais sofisticados como publicado pela “Journal of Clinical Oncology” e reconhecido pelas mais importantes sociedades oncológicas do mundo. E independe da dose!

Reflitemos.

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