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Alberto Consolaro: “Quem leva o dente para fora do osso?”

Por: Alberto Consolaro

Onde estão os dentes antes de aparecerem na boca, pergunta a aluna. Como saem do osso? Quem os tiram de lá? Uau! Vou chamar o Professor Consolaro para conversar com vocês. E lá fui para mais uma aventura do conhecimento cientifico na planície das mentes sedentas de saber.

Embrião é um conjunto de tecidos geleificados, assim como são os primórdios da maxila e mandíbula. O revestimento da boca primitiva do embrião leva para o interior destes géis, verdadeiras sementes diminutas que se desenvolvem como germes dentários em algumas semanas. Só depois, os géis ao redor se transformam em ossos dos maxilares, deixando os germes em cavernas chamadas de criptas, protegidos do meio ambiente bucal.

O germe formado por células muito especiais, forma o esmalte e dentina da coroa, na forma de um sino, e só depois começa a formar a raiz. Vamos imaginar na mandíbula. Acreditava-se que enquanto a raiz formava, o dente ia sendo pressionado para cima, até que erupcionaria na mucosa bucal. Quem tiraria o dente do osso até chegar na boca, eram as raízes, como se tivessem uma mola propulsora para cima.

A ciência elabora hipóteses, usando-as para explicar, mas fica procurando provar que sejam verdadeiras ou falsas, até ter dados que provem o contrário ou as comprovem. Por cima do esmalte, no interior do osso, os tecidos moles chamados de “órgão do esmalte”, ao depositar suas últimas camadas na coroa, formam o epitélio reduzido do órgão do esmalte, uma camada como a mucosa ou pele. Este epitélio é nutrido por vasos do tecido mole entre ele e o osso, chamado de tecido conjuntivo. Epitélio e conjuntivo, formam uma membrana, ou uma touca, aderida ao esmalte chamada de folículo pericoronário.

SERÁ?

Os cientistas perguntaram: será que em vez da raiz, não seria o folículo pericoronário, a estrutura que abriria caminho para os dentes aparecerem na boca, saindo do osso. E logo começaram as pesquisas. Na vertical, o dente tem o folículo pericoronário, a coroa com esmalte, e a raiz com cemento recobrindo-a, ligando e separando-a do osso pelo ligamento periodontal com 0,25mm de espessura.

Imagine que na década de 80, os cientistas Donald R. Cahill e Sandy C. Marks Jr, em um grupo de dentes em cães: 1º) Seccionaram a raiz logo abaixo da coroa, deixando-a com o folículo pericoronário, e os dentes irromperam. 2º) Em outro grupo, removeram a coroa e deixaram o folículo pericoronário com a raiz, e os dentes irromperam. 3º) No terceiro grupo, removeram só o folículo pericoronário e deixaram dente no local, e os dentes não irromperam. 4º) E pasmem, em outros, removeram o dente inteiro, deixaram apenas o folículo pericoronário e no lugar do dente, colocaram uma imitação ou réplica de metal, e os dentes irromperam! A conclusão é que a estrutura essencial para a erupção levar os dentes para fora do osso e colocá-los na boca, é o Folículo Pericoronário. Mas como?

REFLEXÕES FINAIS

  1. O epitélio no corpo, nunca será vizinho de ossos, pois libera um mediador, como um líquido, que estimula a reabsorção de tecidos mineralizados e se chama EGF ou Fator de Crescimento Epidérmico.
  2. Este mediador também controla a própria proliferação epitelial e passou a ter papel relevante no controle e terapia de certos carcinomas, os tumores malignos de origem epitelial. Se passado na pele em cremes, rejuvenesce e retarda as rugas e outros efeitos do envelhecimento. Por esta descoberta, Stanley Cohen ganhou o Premio Nobel de Medicina em 1986.
  3. O folículo pericoronário tem epitélio e libera muito EGF, estimulando a reabsorção do osso ao redor da coroa, abrindo caminho para chegarem até a superfície do osso, promovendo a erupção na boca. Ou seja, dentes com raízes completas, ainda têm potencial para irromperem se houver espaço livre na trajetória eruptiva. A raiz pode participar da erupção, mas não é essencial.
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