Dental Press Portal

Dente: do osso vim e poderei voltar! – por Alberto Consolaro

Alberto Consolaro (Foto: Lucas Amorim/Dental Press)

Alberto Consolaro

Livre docente e Professor Titular de Patologia na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP)

A decoronação seguida de implantes imediatamente colocados já é uma realidade!

Quando o homem não existia, algumas espécies estavam se adaptando às condições de vida oferecidas pelo planeta. Pretensiosos, consideramos os humanos a espécie mais evoluída!

Agora imagine um ser com boca sem dente, tudo liso quando se passa a língua nas bochechas, lábios e palato! As criaturas precisam comer, mas as vezes não têm alimentos para todos e nem tudo pode ser ingerido, pois precisam ser mastigados antes de deglutidos. Algumas criaturas iniciaram um espessamento nos ossos em volta da boca, hoje conhecidos como maxilares e puderam se alimentar de produtos mais consistentes não gelatinosos e líquidos. Essa elevação hoje é o processo alveolar.

>>> Leia mais: Palestra de Dr. Alberto Consolaro sobre anquilose é disponibilizada na íntegra

Apesar do enrijecimento local do osso, abaixo da mucosa, algumas criaturas, ao longo dos séculos, precisavam de alimentos mais duros. O osso abaixo da mucosa bucal começou a irromper e aparecer em pontos na boca. Duros e pontiagudos, algumas criaturas passaram a ter dentes de osso, mas era osso enrijecido exposto.

Os séculos passavam e algumas criaturas precisavam comer alimentos rígidos como carnes e frutos. Os pontos de osso expostos precisavam ser mais rígidos e ao mesmo tempo maleáveis. As células abaixo da mucosa, que fabricavam o osso, se adaptaram para produzir algo diferenciado, rígido, compressível que corresponde à dentina.

Os dentes de um crocodilo pré-histórico (Foto: Reprodução)

A necessidade de alimentos mais duros ainda induziu as espécies a criar um tecido mole entre o osso exposto na boca e sua base abaixo da mucosa. Era uma faixa de tecido conjuntivo para amortecer os impactos dos alimentos duros sobre os pontos de exposição dos ossos ou a agora dentina. Este tecido foi se adaptando nos séculos e se chama ligamento periodontal e separa dentes do osso.

Todas as raízes dentárias têm em volta da dentina um tecido mole conjuntivo ligado ao dente por uma camada bem fininha de cemento e ao maxilar, por outra camada fininha dita osso fasciculado. O cemento, o ligamento periodontal e o osso fasciculado são estruturas dentárias. Por isto que todos os dentes têm uma irrisória capacidade de mobilidade, mas nem percebemos! Esta mobilidade amortece os impactos dos alimentos sobre os dentes.

>>> Leia mais: Os quatro mecanismos de iniciação das reabsorções dentárias

No entanto, algumas criaturas ou animais precisavam comer alimentos mais duros ainda como osso, cartilagem frutos e sementes. Aí a mucosa bucal se especializou em criar uma camada muito mais dura sobre estes pontos de ossos tipo dentina. Esta camada como verdadeiro cristal e resistente é o mais mineralizado e indestrutível dos tecidos: o esmalte dentário!

Em alguns animais, como tubarão e jacarés, formam dentes que vão se revezando, perde e irrompe novos, sem parar, a vida toda! O homem não tem esta capacidade. Troca-se uma vez quando criança, e os dentes ficam de forma permanente na boca.

Interessantíssimo

Olha que interessante: se traumatizar o dente e machucar suas raízes, lesando o ligamento periodontal que une o dente ao osso, poderá ocorrer uma união entre eles chamada de anquilose alveolodentária. Interessante é que o dente, na origem da espécie, veio do osso e volta a ficar integrado ao osso. O osso acolhe e incorpora o dente e, gradativamente, vai reabsorvendo e o substitui por completo.

Isso mesmo, o dente traumatizado e lesado em suas raízes pode virar osso novamente! Depois da anquilose alveolodentária vem a reabsorção por substituição, que pode demorar alguns meses ou anos para se completar, mas sempre acontece.

A Odontologia contemporânea incorporou este conceito. Se viram osso, estes dentes traumatizados com anquilose e reabsorção por substituição, se não contaminados, nem precisam ser extraídos! Deixem eles internalizados porque, agora, devem ser considerados como se fossem tecido ósseo! É só tirar a coroa do dente e recobrir as raízes envolvidas com a mucosa e este procedimento se chama “decoronação”.

Alguém pode perguntar: mas poderia se colocar implante nesta região? Daria certo? Sim e isto já se faz com resultados estéticos e funcionais maravilhosos! Conceitos e técnicas evoluem muito rapidamente e a Odontologia como ciência não ficaria para trás! A decoronação seguida de implantes imediatamente colocados já é uma realidade!

*Publicado originalmente no Jornal da Cidade de Bauru

Sair da versão mobile